Por Prof. Dr. Hédio Silva Junior
hedsilva@uol.com.br
Como regularizar e o que regularizar? Estas duas perguntas são as que mais ouço em palestras, cursos e eventos que participo da Umbanda e do Candomblé em São Paulo e pelo país afora.
Para respondê-las, a primeira tarefa é combater a desinformação. Muita gente acredita que o estatuto da organização religiosa, por exemplo, pode prejudicar as tradições ou os preceitos de um determinado segmento religioso. Ao contrário: o estatuto deve servir para fortalecer as tradições, os valores religiosos.
Não existe modelo único, um padrão de estatuto que deve ser seguido por todos. Existem, sim, algumas exigências previstas em lei. Fora disso, cada segmento tem ampla liberdade para moldar o estatuto de acordo com suas tradições. Outra tarefa importante: muita gente acredita que nunca nada vai dar errado no seu Terreiro. Trata-se de um grave e perigoso engano.
Nas minhas palestras sempre faço questão de lembrar que quando alguém é recolhido, adulto ou criança, filho ou não da Casa, amigo ou desconhecido, é preciso que haja uma declaração assinada pela própria pessoa, pelos pais ou responsáveis. Se possível com firma reconhecida. Nesta declaração a pessoa deve indicar que ela será recolhida de livre e espontânea vontade; o tempo de recolhimento, o endereço em que ficará, entre outros dados.
Por quê? Porque se ocorre uma fatalidade (um infarto fulminante por exemplo), e a pessoa vem a falecer no período do recolhimento, como explicar isto para as autoridades?
E se por acaso a pessoa tem um parente que pertence a uma religião diferente, e que era contrário à sua iniciação. Como se livrar de uma acusação? Já vi Sacerdotes sendo condenados à pena de prisão porque não deram importância a este tipo de coisa. Isto significa que não basta o conhecimento religioso para que a Religião possa existir e crescer sem problemas.
Como se vê, a legalização não serve apenas para se obter benefícios, como o não-pagamento do IPTU, por exemplo. Ela serve também para a proteção das Religiões Afro-brasileiras, dos cultos, dos Sacerdotes, das Sacerdotisas, dos fiéis, enfim, de todos aqueles que freqüentam os cultos.
Vale lembrar que até para ir à Justiça, defender um direito perante o Poder Judiciário, é preciso que a organização religiosa esteja regularizada.
Isto significa que quanto mais cresce a discriminação, a perseguição, a intolerância religiosa, mais cuidados se deve tomar com a regularização das Religiões Afro-brasileiras.
Religião, qualquer que seja, precisa mais do que conhecimento religioso: Religião é também conhecimento dos direitos e deveres, cidadania.
Superada a desinformação, voltamos a pergunta: o que é preciso regularizar?
Inicialmente, três passos são muito importantes: criar a organização religiosa, regularizar a situação do Sacerdote/Sacerdotisa e registrar o Templo religioso.
Para que possa funcionar regularmente, um Templo religioso deve estar sob a responsabilidade de uma organização religiosa. Por outro lado, é a organização religiosa quem tem poderes para indicar se uma determinada pessoa é ou não um Ministro Religioso, um Sacerdote, uma Sacerdotisa do ponto de vista jurídico, legal.
Podemos ir mais longe ainda: para ter validade, o casamento religioso precisa ser celebrado por um Sacerdote ou uma Sacerdotisa que esteja com sua situação regularizada.
Por todas estas razões, e muitas outras, vale a pena cuidar da papelada, enfim, da regularização dos templos. Este também é um importante caminho para o engrandecimento e o fortalecimento daquele segmento que hoje mais precisa de proteção legal: as Religiões Afro-brasileiras. Quer saber mais? Participe do curso virtual de direitos e deveres das religiões afro-brasileiras ministrado pelo Prof. Dr. Hédio Silva Jr. Informe-se no site www.ica.com.br ou pelo e-mail: rodrigo@ica.com.br /
Hédio Silva Jr., Advogado, Doutor em Direito pela PUC-SP, Coordenador Executivo do CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades e ex-Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (Gestão Alckmin) e Coordenador do Curso de Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares. Veja abaixo Curso Virtual que será ministrado por este valoroso e dedicado irmão.
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